Rosane Cardoso, primeira vereadora negra eleita em Lajeado, é destaque na política
No mês de julho a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul é palco de uma cerimônia especial, que celebra o protagonismo de mulheres negras nas mais diversas áreas de atuação. A deputada estadual Laura Sito homenageia dezenas de personalidades com a entrega da Medalha Preta Rosa, uma premiação que reconhece o protagonismo de mulheres negras em setores como política, cultura, educação, saúde, segurança pública, academia e trabalho social. Dentre as homenageadas, está a professora da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e primeira vereadora negra eleita em Lajeado, Rosane Maria Cardoso.
Rosane é professora e pesquisadora do Departamento de Ciências, Humanidades e Educação e também atua no Programa de Pós-Graduação em Letras (PPGL) da Unisc. Os livros sempre a cativaram. Filha mais nova de pais analfabetos, a leitura fez parte de sua vida desde cedo, mas a faculdade não parecia parte de suas possibilidades. Foi auxiliar de enfermagem por mais de uma década e, com 26 anos, entrou no Curso de Letras. Assim que formada, começou a trabalhar em outra universidade e, em 2010, passou a fazer parte da equipe de docência da Unisc.
Desde sempre foi politizada e envolvida em movimentos sindicais, e passou a fazer parte da política quando apenas falar não bastava mais. Primeira mulher negra a ser vereadora no município de Lajeado, tem lutado por cotas raciais no serviço público ao longo do mandato. Também conseguiu verbas significativas para a educação voltada ao antirracismo, para a Casa de Passagem do Vale e para uma Unidade Especializada de Saúde (UES) que oferece atendimento para pessoas transgênero em Lajeado. A homenagem é fruto de seus feitos como vereadora: “Esta medalha me orgulha muito. É resultado do meu envolvimento político, voltado exclusivamente para políticas públicas e defesa dos grupos minorizados. É bom demais receber o prêmio apenas 7 meses depois de iniciar o mandato”, relata Rosane.
A premiação tem data marcada
A entrega da Medalha Preta Rosa será realizada no Salão Júlio de Castilhos, na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, no dia 23 de julho, às 14 horas. O evento é uma oportunidade de reflexão sobre o papel da mulher negra na história e na construção do presente e do futuro. As homenagens ressaltam o esforço coletivo, destacando lutas e desafios diários, mas também celebrando vitórias e conquistas.
Homenagem a uma História de Resistência
O nome da medalha tem uma forte ligação com a resistência negra feminina no Brasil. Preta Rosa, uma mulher negra escravizada, foi guerreira no quilombo de Manoel Padeiro, durante a década de 1830, no sul do Rio Grande do Sul. Atuando como combatente armada e estrategista, ela se destacou por suas táticas de guerrilha, chegando a se vestir de homem para obter informações importantes.
Ela foi morta em combate, no dia 16 de junho de 1835, enfrentando os capitães do mato, a mando dos charqueadores escravistas. Sua memória persiste como um símbolo da resistência e orgulho.
Por isso, a Medalha é uma forma de destacar e valorizar as trajetórias de mulheres agentes transformadoras na sociedade. Este evento se insere nas celebrações do Julho das Pretas, parte da agenda nacional, marca o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, comemorado em 25 de julho. A data simboliza a luta histórica de mulheres negras por justiça, igualdade e visibilidade.
Texto: Estagiária Évelin Nyland
sob supervisão das jornalistas Tatiane Luci Rodrigues e Bruna Lovato